Frequentemente, a missão da arqueologia é desvendar uma terra há muito tempo esquecida. Assim, parte desse empreendimento envolve localizar o sítio ancestral. Onde exatamente estava Sodoma? Seria ao norte ou ao sul do Mar Vermelho? E mesmo após estabelecer isso, a questão crucial permanece: onde estava situada precisamente a cidade antiga que foi aniquilada?
Contudo, tais indagações não são um dilema quando se trata da Cidade de Jericó. Conhecemos a localização de Jericó porque é onde ela se encontra atualmente. A antiga Jericó se encontra no noroeste da Jericó contemporânea. Nesse local, foram feitas algumas descobertas arqueológicas fascinantes. Sendo assim, vamos desvendar algumas curiosidades arqueológicas e aprender algumas lições com a queda de Jericó.
Jericó na Bíblia
Você deve estar se perguntando onde Jericó é mencionada na Bíblia, certo? Bem, é uma cidade que aparece em várias passagens, e vamos explorar algumas delas.
Primeiramente, há a famosa narrativa de Josué 6, onde, a cidade é cercada e suas muralhas caem após uma estratégica marcha liderada por Josué. Além disso, Jericó é palco da história de Raabe e dos espiões em Josué 2, onde a prostituta Raabe desempenha um papel crucial ao salvar os espiões judeus.
Posteriormente, vemos a triste narrativa de sua destruição pelos babilônios em 2 Reis, com menções em Jeremias 39 e 52.
No entanto, Jericó ressurge no Novo Testamento, sendo o local onde Jesus cura o cego Bartimeu e onde Zaqueu sobe em um sicômoro para vê-lo. Ao longo das Escrituras, Jericó é um símbolo da expansão do reino de Deus, seja através da justiça ou da graça de Jesus Cristo.
Evidências das muralhas de Jericó
De fato, encontramos as Muralhas de Jericó. Contudo, se essas paredes são ou não as referidas na Bíblia, é um assunto em debate. Inicialmente, notáveis escavações foram conduzidas por Ernst Sellin e Carl Watzinger entre 1907 e 1909.
Entretanto, na década de 1950, Kathleen Kenyon liderou uma escavação substancial que identificou os restos de uma considerável parede de pedra do período Neolítico (por volta de 8.000 a.C.), demonstrando que Jericó era uma cidade fortificada muito antes do que se pensava.
Adicionalmente, foram descobertos sistemas de fortificação mais elaborados, indicando um centro urbano bem protegido, datado aproximadamente de 3.000 a 2.000 a.C.
No entanto, a cronologia arqueológica encontrada gerou algumas contradições com os dados bíblicos aceitos. A ausência de cerâmica e outras evidências do final da Idade do Bronze (por volta de 1400 a.C.), levou Kenyon a acreditar que a antiga cidade estava desabitada antes do período tradicionalmente associado à conquista de Josué, lançando dúvidas sobre a narrativa bíblica.
Contudo, o Dr. Bryant Wood, arqueólogo da Universidade de Toronto, contestou as conclusões de Kenyon. Ele sugeriu que suas escavações não abrangeram áreas de Jericó onde os ricos, que possuíam a cerâmica em questão, residiam. Ele se baseou nas descobertas de outro arqueólogo, John Garstang, que encontrou uma grande quantidade de potes e tigelas de barro mais simples e comuns daquele período. Wood também afirmou que três outras linhas de evidência corroboraram sua conclusão.
Isso levou Wood e outros a acreditarem que estas são, de fato, as muralhas de Jericó derrubadas em Josué 6. As Escrituras narram o colapso do muro e uma destruição massiva pelo fogo, uma descrição que parece ser confirmada pelas evidências arqueológicas.
Entretanto, há registros sobre a destruição das muralhas pelos babilônios no final de 2 Reis, mencionados também em Jeremias 39 e 52. No entanto, no Novo Testamento, Jericó ressurge como o local onde Jesus cura o cego Bartimeu e Zaqueu sobe em uma figueira para ver o Senhor.
Ao longo das Escrituras, Jericó é um local que simboliza a expansão do reino de Deus, seja por meio da justiça ou da graça de nosso Senhor Jesus.
Explorando a datação das Muralhas de Jericó
A controvérsia em torno das muralhas de Jericó é um tema frequentemente debatido. Como já discutido, a identificação dessas estruturas como as muralhas mencionadas na Bíblia está longe de ser conclusiva. É comum em questões complexas como esta que nossas premissas influenciem significativamente nossa interpretação das evidências disponíveis.
Portanto, surge a pergunta: quais abordagens devemos adotar para determinar a datação precisa das descobertas arqueológicas? Três metodologias principais têm sido empregadas para este fim: a datação por carbono-14, a análise de glifos e inscrições, e a tipologia cerâmica.
A datação por carbono-14, embora amplamente utilizada e confiável em muitos casos, tem produzido uma variedade considerável de datas para Jericó, abrangendo desde 1883 a.C. até 1262 a.C., o que a torna menos conclusiva neste contexto específico. Por exemplo, em 2000, uma equipe de escavação ítalo-palestina obteve duas amostras datadas, uma de 1347 (+/- 85 anos) e outra de 1597 (+/- 91 anos). Esses resultados sugerem que ainda estamos lutando para estreitar o intervalo temporal, situando-nos predominantemente entre as décadas de 1550 e 1400 a.C.
Por outro lado, os glifos e inscrições, incluindo os escaravelhos egípcios descobertos por John Garstang, oferecem uma linha do tempo mais precisa. Especificamente, esses escaravelhos, notadamente os associados aos faraós Tutmés III e Amenófis III, indicam uma ocupação ativa de Jericó durante o século XV a.C., contradizendo a teoria do abandono proposta por Kenyon. Alguns artefatos encontrados no cemitério fora de Jericó sugerem atividade até o final do século XV a.C.
Além disso, a análise da tipologia cerâmica, outro método fundamental de datação, também aponta para uma destruição em torno de 1400 a.C. Como já mencionado, a pesquisa cerâmica conduzida por Wood, incluindo a identificação de imitações locais de cerâmica bicromática descobertas por Garstang, suporta uma data de destruição em torno de 1400 a.C. Essa cronologia está mais alinhada com a hipótese original de Garstang e com o relato bíblico da conquista liderada por Josué.
Evidências da casa de Raabe na Cidade de Jericó
Pensar que poderíamos ter descoberto uma residência de vários milhares de anos atrás e sermos capazes de identificar especificamente a honra associada a ela parece um tanto fantasioso, devemos admitir. No entanto, a casa de Raabe não era apenas uma habitação comum.
No livro de Josué 6, nos diz que quando os muros de Jericó desabaram, a casa de Raabe permaneceu intacta devido à sua fidelidade e lealdade aos espiões judeus. Seria viável encontrar evidências que confirmassem essa narrativa?
Existem alguns detalhes que podemos inferir sobre sua residência a partir do texto bíblico. Em primeiro lugar, é mencionado que, como outras casas daquela época, o telhado seria plano e acessível. Além disso, em Josué 2:15 nos diz que a casa dela estava construída “sobre o muro”.
Durante a escavação realizada por Sellin e Watzinger entre 1907 e 1909, eles descobriram uma seção no lado norte de Jericó onde as paredes não ruíram, havendo uma pequena porção de parede. Para grande surpresa, durante as escavações lideradas por John Garstang na década de 1930, vestígios de habitações construídas junto ao muro, acabaram sendo encontradas intactas.
Não podemos afirmar com total certeza que esta, ou qualquer uma das casas encontradas, seja de fato a de Raabe. No entanto, é notável que tenhamos encontrado vestígios que se encaixam na narrativa bíblica.
Evidências da árvore que Zaqueu subiu para ver Jesus quando entrava em Jericó
Quando Jesus chegou a Jericó, conforme registrado em Lucas 19, um coletor de impostos conhecido como Zaqueu subiu em uma árvore para conseguir ver Jesus. Atualmente, uma figueira-de-sicômoro fica em uma interseção movimentada em Jericó.
Há quem sustente a hipótese de que essa árvore seja a mesma que Zaqueu escalou. Geralmente, as figueiras-de-sicômoro não vivem por mais de algumas centenas de anos. Contudo, alguns relatos indicam que testes realizados na árvore sugerem uma idade superior a 2.000 anos.
Se isso for verdade, é possível que seja a própria árvore na qual Zaqueu se apoiou.
Este sicômoro se transformou em um ponto de peregrinação popular para os cristãos que visitam Jericó. Pois, apesar de não haver provas concretas de que seja a mesma figueira, ela certamente nos proporciona uma visão de como seria estar ali, durante a presença de Jesus.
Visitar esse local pode nos transportar de volta à era de Jesus, quando Ele ministrava e aqueles como Zaqueu estavam ávidos por ouvir Sua mensagem e vivenciar Sua transformação.
Igrejas da Era bizantina em Jericó
Durante a era bizantina, Jericó manteve sua proeminência religiosa, como atestado pelas descobertas arqueológicas que revelam seu papel crucial na história eclesiástica. Após a chegada do cristianismo por volta de 340 d.C., a cidade de Jericó experimentou um aumento populacional significativo. Testemunhando então, a construção dos mosteiros proeminentes, ao lado dos quais algumas sinagogas judaicas também surgiram.
As escavações desse período lançam luz sobre o panorama histórico e religioso da região. Um aspecto notável é a proliferação de igrejas bizantinas, cujas estruturas intricadas e mosaicos característicos enriquecem nossa compreensão desse período.
Essas descobertas indicam uma comunidade cristã vibrante em Jericó, consolidando sua posição como um centro religioso vital durante a era bizantina.
Além dessas igrejas, o Mosteiro da Tentação se destaca, situado no Monte da Tentação, nas proximidades de Jericó. Embora os arqueólogos não tenham desenterrado evidências dela, tradicionalmente associamos sua localização à tentação de Jesus, destacando a importância espiritual da região. Assim como a tendência de estabelecer comunidades monásticas em locais com significado bíblico.
Este mosteiro, cujas origens remontam ao período bizantino, continua a ser um local de peregrinação, atraindo fiéis em busca de conexão espiritual e insights históricos.
As evidências arqueológicas revelam uma Jericó vibrante durante o domínio bizantino, com sua estrutura social refletida em edifícios residenciais, espaços públicos e fortificações. Essas descobertas testemunham o impacto do cristianismo na cidade e sua importância como centro religioso e cultural durante o Império Bizantino.
5 Lições que aprendemos com a Cidade de Jericó
A história de Jericó é repleta de ensinamentos que ecoam até os dias de hoje. Aqui estão algumas lições que se destacam e que podemos
1. É preciso ter fé e obedecer a voz de Deus
A queda dos muralhas de Jericó nos ensina que é necessário termos fé e também obedecermos a voz de comando do Senhor nosso Deus. A estratégia incomum de cercar a cidade e soar as trombetas desafia a lógica militar, no entanto Josué e os israelitas seguiram fielmente as instruções de Deus, resultando na queda dos muros. Muitas vezes, os planos de Deus estão além da nossa compreensão racional, contudo, não precisamos entender, apenas crer e obedecer que a vitória será certa em nossas vidas.
2. Em Jericó Raabe alcançou a graça e redenção
A história de Raabe, a prostituta, que escondeu os espias israelitas e recebeu a salvação na queda das muralhas de Jericó, evidencia quão infinita é a graça e a misericórdia do Senhor. Sendo que a partir da descendência de Raabe, o Messias viria ao mundo. A lição que aprendemos aqui é que da mesma maneira acontece com nós, não importa qual seja o nosso passado ou os erros cometidos, Deus nos alcança sua maravilhosa graça e resgata a nossa alma da perdição.
3. Na Cidade de Jericó ouve arrependimento
Primeiramente, na antiga Jericó, testemunhamos um profundo arrependimento, evidenciando o poder da transformação. A história de Zaqueu é um exemplo vívido desse fenômeno, destacando a capacidade regeneradora do arrependimento. Ela retrata o desejo ardente de Jesus em resgatar e restaurar aqueles que se perderam, revelando também sua disposição em se relacionar com os pecadores arrependidos.
4. A Cidade de Jericó vivenciou o julgamento de Deus
A queda da cidade não apenas ilustra a soberania de Deus, mas também nos lembra da autoridade divina sobre nações e cidades. Isso nos alerta para as consequências da desobediência coletiva e da decadência moral, destacando a importância de viver em conformidade com os princípios divinos para evitar o mesmo destino.
5. A graça de Deus superou as ruínas de Jericó
A próspera comunidade cristã em Jericó durante a era bizantina ilustra que a graça supera as ruínas causadas pela rebelião. Essa lição nos mostra que, mesmo em meio à destruição, a graça de Deus continua a transformar vidas e comunidades.
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