Poucos talvez tenham conhecimento desse personagem bíblico chamado Onésimo, porém, essa figura guarda uma narrativa rica em transformação e redenção. Na epístola de Paulo a Filemom, redigida durante seu período de encarceramento, encontramos Onésimo pela primeira vez.
Originário das sombras da escravidão, Onésimo era propriedade de Filêmon, uma figura de destaque na comunidade cristã de Colossos. No contexto do Império Romano do primeiro século, os escravos eram vistos meramente como posses, destituídos de direitos ou honra. Contudo, aos olhos de Deus, cada indivíduo, independentemente de seu status social, carrega um valor intrínseco e é digno de redenção.
Sendo assim, vamos desvendar a história e as lições que podemos aprender com Onésimo, o escravo liberto pelo evangelho de Jesus Cristo.
História de salvação de Onésimo
Onésimo, após roubar seu mestre e escapar para Roma, buscando se camuflar na multidão urbana, teve sua vida drasticamente transformada ao cruzar o caminho do apóstolo Paulo. Sob a orientação divina, ele encontrou Paulo e abraçou a fé em Cristo como seu Salvador.
Guiado por Paulo e capacitado pelo Evangelho, Onésimo experimentou uma renovação espiritual. O antes rebelde escravo se tornou um devoto seguidor de Cristo. As correntes da escravidão que o aprisionavam foram substituídas pela liberdade encontrada em Cristo – uma liberdade que transcende as limitações terrenas e os estigmas sociais.
Enquanto residia em Roma, Onésimo amadureceu em sua fé. Paulo instruiu-o nas Sagradas Escrituras, e Onésimo serviu Paulo durante sua detenção. Conforme o tempo passava, Paulo reconhecia que, para o contínuo crescimento espiritual de Onésimo, era de suma importância buscar reconciliação com aqueles que havia prejudicado. Em um momento de reflexão na prisão, Paulo fez um apelo sincero por perdão e reconciliação.
“Onésimo, a quem gerei em meus grilhões, que anteriormente era inútil para ti, mas agora é útil tanto para ti como para mim. Estou enviando-o de volta para ti; receba-o, como se fosse o meu próprio coração, aquele que eu gostaria de manter comigo, para que ele possa servir-me em meus grilhões pelo Evangelho” (Filemon 10-13).
Acompanhado por Tíquico, Onésimo retorna ao seu lar com a carta de Paulo para Filemom, juntamente com uma mensagem para a igreja em Colossos que se reunia em sua casa (Colossenses 4:7-9). Em suas palavras, Paulo pede gentilmente a Filemom que receba de volta seu servo outrora desobediente e o perdoe.
“Pois, talvez, ele se afastou por um tempo com este propósito, para que o recebas para sempre, não mais como escravo, mas acima de um escravo, como um irmão querido” (Filemon 15-16).
“Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revistam-se de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência; suportando uns aos outros e perdoando uns aos outros, se alguém tiver motivo de queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim também vós deveis perdoar” (Colossenses 3:12-13).
As memórias de Onésimo ecoavam na mente de Filemom. O escravo fugitivo havia causado prejuízos financeiros, pois o que tudo indica é que Onésimo roubou dinheiro de seu servo, Filemom. E agora a amargura ameaçava enraizar-se em seu coração.
Embora a lei permitisse a punição de um servo rebelde, Filemom era um seguidor de Cristo. Perdoar Onésimo significaria desafiar as normas sociais; entretanto, se o castigasse, como isso afetaria seu testemunho cristão e seu ministério em Colossos?
Evidentemente, um dilema se apresentava. Apesar das pressões legais e sociais, como cristão, Filemom compreendia o chamado a um padrão mais elevado. Contudo, a carta entregue por Onésimo continha a orientação de que Filemom precisava.
Embora as Escrituras não revelem o desfecho da história de Onésimo, a inclusão da epístola de Filemom sugere que a carta alcançou seu objetivo e que Filemom perdoou Onésimo.
Onésimo se tornou bispo
A vida de Onésimo após sua conversão é esclarecida não apenas pelos registros bíblicos, mas também pelos escritos da igreja primitiva de Inácio, discípulo direto do apóstolo João. Nas suas cartas às diversas comunidades cristãs, Inácio menciona Onésimo como um devoto servo de Cristo.
Segundo Inácio, Onésimo exerceu o papel de bispo em Éfeso e desempenhou um papel crucial na compilação das primeiras epístolas de Paulo. John Knox destacou que Onésimo desempenhou um papel essencial na inclusão da carta a Filêmon no cânon das Escrituras, conferindo peso à sua autoridade como bispo.
Knox prossegue explicando que as cartas paulinas foram originalmente publicadas em dois rolos de papiro: o primeiro contendo Efésios, I e II Coríntios, e o segundo incluindo Romanos, I e II Tessalonicenses, Gálatas, Colossenses, Filêmon e Filipenses. Acredita-se que essa compilação tenha sido feita antes de 95 d.C., marcando o início da formação do Novo Testamento como uma coleção definitiva de escritos.
Paulo teve uma participação especial tanto na conversão de Onésimo quanto em garantir seu perdão e libertação da escravidão. Dedicando sua vida para disseminar os ensinamentos que moldaram a vida de Onésimo.
O Prof. DF Tolmie argumenta em um artigo que houve, por muitos séculos, um consenso parcial sobre o status de Onésimo. Tolmie destaca como, durante o Debate sobre o Abolicionismo de 1800, houve contestações sobre o status de Onésimo, tornando-o uma figura central na questão da escravidão.
2 Lições que aprendemos com Onésimo
Embora a vida de Onésimo possa parecer pouco conhecida, ele deixou uma marca duradoura no movimento cristão inicial. Em vez de ser definido por sua condição de escravo, Onésimo emergiu como um servo dedicado a Jesus Cristo. Sua fé recentemente adquirida o impulsionou a abraçar totalmente uma vida dedicada a seguir a liderança do Espírito Santo e a servir a Deus.
A primeira lição que aprendemos com a história de Onésimo serve como um lembrete atemporal do poder da graça de Deus. Independentemente das circunstâncias passadas ou presentes, o amor de Deus tem o poder de redimir, restaurar e renovar. Isso nos exorta a estender graça e compaixão aos que nos rodeiam, reconhecendo que em Cristo não há distinção entre escravo e livre, mas todos são um Nele.
Onésimo estava profundamente comprometido em promover o Evangelho e atender às necessidades da igreja. Através de sua devoção incansável e serviço altruísta, Onésimo personifica o discipulado cristão – uma vida entregue a Jesus Cristo e dedicada a cumprir os propósitos de Deus.
A segunda lição que podemos aprender com Onésimo é que desde um começo humilde como escravo até tornar-se uma figura reverenciada na igreja primitiva, a jornada de Onésimo permanece como um testemunho poderoso da mão orientadora do Espírito Santo e do poder da fé.
Sua história nos desafia a examinar nossas próprias vidas e a considerar o quão profundamente estamos comprometidos com Cristo. Estamos prontos para servir a Deus fielmente, onde quer que Ele nos chame, e para abraçar a obra que Ele deseja realizar em e através de nós?
Conclusão
Ao estudarmos sobre a vida de Onésimo, somos inspirados a renovar nosso compromisso com Deus e a viver uma vida de dedicada ao serviço do reino. Que possamos seguir a liderança do Espírito Santo e buscar cumprir os propósitos de Deus em nossa geração. E, como Onésimo, possamos ser testemunhas vivas da graça ilimitada e do poder transformador de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo.
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